Marcos históricos da interpretação

A interpretação, e suas ramificações, tal como a conhecemos hoje é resultado de um longo processo histórico que culminou na profissão contemporânea. Percorrendo a antiguidade, do Egito, até a Grécia e o Império Romano, a interpretação desempenhou papéis significativos durante a história da humanidade, garantindo que descobertas e invenções tecnológicas pudessem ser levadas a outros países e possibilitando a exploração e invasão de outros.

 

  • Egito

Os registros mais antigos que existem sobre a interpretação datam do período do antigo Egito, onde os intérpretes trabalhavam nas cortes dos faraós. A grande estrutura administrativa do Egito e as atividades econômicas fizeram com que a interpretação fosse parte essencial do governo, que contratava intérpretes na corte para realizar transações, trocas e negociações econômicas, militares e políticas. Contudo, historiadores depreendem, a partir de alguns registros, que o status de intérpretes se igualava ao de mercadores e marinheiros, e que eles não gozavam de muita estima ou respeito na sociedade egípcia. 

 

  • Grécia Antiga e Império Romano

Na antiguidade, a interpretação era uma profissão central exercida por diplomatas, militares e administradores. Ademais, esses profissionais tiveram um papel na área da filosofia. A título de ilustração, o imperador Alexandre , o Grande, ordenou que o historiador grego Onesikritos conduzisse uma pesquisa acerca dos ensinamentos dos ascetas indianos. 

O Senado romano, um dos principais órgãos administrativos do império, empregava intérpretes, que eram muitas vezes considerados perigosos já que poderiam revelar segredos de estado. O imperador romano Caracala chegou, inclusive, a executar todos os intérpretes presentes durante negociações sigilosas a fim de garantir que o conteúdo da discussão não fosse divulgado.  Nesse período, intérpretes também eram enviados para negociações de paz em Constantinopla. 

 

  • Idade Média

São escassos os registros sobre intérpretes até o século VIII, por conta do declínio da cultura escrita no período antecedente. Informações acerca de intérpretes reaparecem na baixa idade média, período de efervescência cultural e econômica. As cruzadas, expedições organizadas pela Igreja Católica, também contribuíram para o número de intérpretes do período. 

 

  • Processo de colonização e imperialismo: mundo moderno

As expedições marítimas que culminaram na invasão de países da Ásia, das Américas e do continente africano favoreceram o surgimento de intérpretes nas colônias do novo mundo. Intérpretes facilitavam, dessa maneira, a comunicação entre os invasores, cujos principais objetivos eram comerciais e exploratórios. Havia também a prática de sequestro de membros de populações indígenas, que eram forçados a aprender a língua dos “conquistadores” e facilitar a comunicação com os locais. 

 

  • Século XX, o século das guerras

A instabilidade econômica e diplomática ocasionada pela 1ª Guerra Mundial levou à criação da Liga das Nações, antecessora da ONU. O advento de organizações internacionais como essas favoreceram a profissionalização da interpretação em diversas partes do mundo, o fomento à pesquisa e ao estudo e também ao uso da interpretação consecutiva em âmbitos diplomáticos. Considerando que a interpretação consecutiva consome bastante tempo, foi pensado uma nova modalidade que não prolongasse tanto os encontros. Esse foi o estopim para o uso da interpretação simultânea, usada pela primeira vez durante os Julgamentos de Nuremberg. Nesse período, o desenvolvimento tecnológico possibilitou o uso de microfones para conectar interlocutores, intérpretes e ouvintes, que poderiam eleger a língua de sua preferência.  A partir desse marco histórico, a interpretação simultânea passou a ser, não apenas objeto de estudo, mas também objeto de trabalho em diversas agências internacionais e nacionais. Uma entrevista com o intérprete Siegfried Ramler, que atuou nos julgamentos de Nuremberg, pode proporcionar um entendimento aprofundado sobre o profissionalismo exigido de intérpretes à época, a modalidade em ascensão da interpretação simultânea e suas experiências ao trabalhar em caso de relevância internacional

 

A partir da década de 1950, a interpretação passou por grandes desenvolvimentos e diversos nichos surgiram, como a interpretação comunitária. Ademais, o avanço tecnológico possibilitou também que a  compilação de glossários e dicionários ocorresse de forma mais automatizada, o que por sua vez, facilita a atuação de intérpretes em diversas instâncias e ramos de interpretação. 



Referência

ANDRES, D. History of Interpreting. The Encyclopedia of Applied Linguistics, 5 nov. 2012.


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